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Porque a Violência Sexual Contra Meninos é Tolerada?


Olá, queridos, sejam bem vindos a mais um de meus textos aqui no blog da BRAPSI e, neste, particularmente inflamado pela leitura do post apresentado pelo Eliel Lima intitulado A Subnotificação da Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes é Mais Cruel Para os Meninos, qual recomendo que leiam, vim falar sobre a temática do abuso sexual infantil, mais precisamente, sobre o abuso sexual infantil enquanto prática aceita ou tolerável no meio social.





“Mas Nicollas, como assim o abuso sexual infantil como algo aceito???”

Pois é, vamos falar justamente sobre isso. Quando entramos no assunto de abuso sexual, sempre temos de lidar com o fato da questão ser um grande tabu, afinal, mesmo para psicólogos, lidar com a temática é por vezes difícil e, para muitos, um tema qual não conseguem atender na clínica, seja quando falamos do atendimento para vítimas ou abusadores. Mas bem, porque algo que é socialmente visto como tão hediondo está sendo trabalhado aqui como aceito? Não é incoerente? Sim! É incoerente! Mas desde quando a sociedade realmente buscou fazer algum sentido?



No texto apresentado por Eliel em sua publicação, vamos ter uma pesquisa a respeito da subnotificação de casos de abuso sexual infantil de meninos, e, para além desta constatação, teremos outras, como o fato de que poucos dados ou pesquisas realmente se voltam a essa estimativa, mas, porque esse dado é tão irrelevante? Será que o abuso sexual infantil e a sua subnotificação não importam para as autoridades? Ou existe um outro fator social por trás disso?




Então, neste ponto chegamos no machismo estruturado nessa história toda. O abuso sexual infantil ele não é uma questão social distante das discursões acerca do machismo, isso porque, até mesmo como já discutido nos casos de abuso sexual de meninas, não incomumente o pai pode acreditar ter “direito” de ser o primeiro parceiro sexual da filha visto que a criou e posso aqui dizer que a tem como “posse/propriedade”.



Mas, quando falamos do abuso sexual de meninos, teremos também o fator machismo estrutural atuante e não somente na visão do abusador e nas suas crenças permissivas disfuncionais, mas também na visão da vítima que para atender a seu papel e colocação social de “homem” não pode aceitar ou permitir que outros saibam que foi abusado sexualmente, isso quando falamos sobre “Atos Físicos-Genitais”, mas vamos além.


O abuso sexual infantil ele tem muitas formas, e vai muuuuito além do que no senso comum se entende como abuso sexual, em resumo, temos estes tipos:



 

Abuso Sexual Verbal: Que se dá por meio de falar com a criança/adolescente sobre atos sexuais na finalidade de impressionar/chocar ou mesmo despertar na criança algum interesse ou curiosidade.


Se você consegue visualizar um menino em uma roda de conversa de homens onde falam sobre coisas que fizeram e como fizeram, ou m


esmo ficam instigando/incentivando uma criança/adolescente a praticar relações sexuais com uma menina, descrevendo em detalhes até o que ele deve ou não fazer com ela, então você consegue perceber o quanto isso é normalizado na sociedade.


Sim, o Abuso Sexual Verbal é considerado abuso verbal é considerado abuso sexual infantil e sim, esse tipo de exposição pode trazer danos para a criança/adolescente, principalmente considerando que estas conversas podem ser uma porta de entrada/aproximação do abusador para atos mais invasivos.


 

Mensagens Obscenas: Aqui teremos praticamente o mesmo teor do abuso sexual verbal, porém, agora de uma forma mais direta e voltada para o menor, essas conversas podem ser particulares e podme levar para atos de exibicionismo e voyeurismo.



Esse tipo de contato, entre meninos, pode acontecer e os abusos são muito recorrentes, quando vemos as estimativas gerais sobre os abusadores e a proximidade com a vítima podemos entender e visualizar bem como pode se dar esse tipo de contato e como isso pode levar ao abuso. Os abusos podem ocorrer partindo de conhecidos da vítima (82,5%), de pais ou padrastos (40,8%) que possuem um contato mais próximo com o menino e que ocupam também uma posição de autoridade ou mesmo irmãos ou primos (37,2%) que por muitas vezes são as pessoas com quem um jovem adolescente pode desenvolver contatos mais íntimos sobre questões sexuais e, deste contato, estes podem se aproveitar.


 

Exibicionismo: Neste tipo de abuso já teremos a exposição/exibição em caráter sexual para crianças e adolescentes, normalmente sendo feita do pênis e isso pode se dar nos mais diferentes contextos. Pode ser uma “brincadeira” de comparação, pode ser durante um banho onde o abusador se exponha sexualmente para a criança/adolescente, pode ser em atividades de lazer como um banho de piscina onde se evidencia talvez o volume em uma cueca a fim de se exibir para o menor…


O Exibicio vai se configurar por essa exposição na intenção de chocar, de impressionar ou de chamar atenção da criança/adolescente. E isso, no contexto da masculinidade, com meninos, pode ser levado como uma “atividade normal”, uma “brincadeira”, mas se configura como abuso sexual.


Em atendimento, já me deparei com caso onde a “brincadeira” do adulto, entendida e aceita pela família em público era pôr a mão do menino de 8/9 anos no pênis do tio e, quando sozinho com esta figura, o abuso sexual se intensificava. E a brincadeira em público, que já não é algo a que uma criança deva ser exposta, era tolerável.


Vale ressaltar, que a exposição aqui também pode ser de conteúdo pornográfico, pode ser colocar o jovem para assistir a pornografia e/ou mulheres/homens pelados. Isso também será configurado como abuso sexual, mas será que socialmente isso será aceito como abuso sexual ou dirão que apenas se trata de um “estímulo” para o jovem?


Se considerarmos também aqueles que levam o menino para ambientes como locais de prostituição, casas noturnas, para verem mulheres nuas e tocarem, o que dirão sobre essa cultura de abuso sexual infantil e exposição precoce do jovem ao comportamento sexual?


 

Voyeurismo: Aqui teremos o querer ver o jovem nú/pelado e isso, em contexto familiar tem muitas possibilidades e forma de ocorrer. É um tipo de abuso um pouco mais velado e difícil de ser denunciado, a não ser que se dê por troca de fotos ou de modo mais direto, porém, entre primos, por exemplo, tomarem banho juntos pode ser uma atividade normal e não sexualizada, tal como pais/mães darem banho nos filhos ou mesmo tios. O voyeurismo se verá mais evidentemente como abuso em caso de troca de fotos ou gravações dos menores.


 

Atos Físicos-Genitais: Aqui temos o abuso da forma mais comum como a sociedade entende, temos aqui o contato físico-genital que pode se dar em diversas configurações. Colocar a mão de um jovem nas partes íntimas do abusador ou o abusador colocar sua mãe nas partes íntimas do jovem, pode ser incluída aqui a penetração, pode ser incluída aqui o ato de levar um garoto de 11/12 anos para o primeiro contato sexual em uma casa noturna.



A própria relação de jovens adolescentes com mulheres mais velhas, colocada socialmente como a “troca de sabedoria” ou mesmo a “professora” como até mesmo o google trazia de definição ao termo, é uma forma de abuso sexual infantil de meninos, que se submetem e aceitam porque precisam se encaixar no “papel de homem” e no grupo “homem” no qual tenta ser aceito e inserido.


Em nosso contexto social, esse tipo de abuso não é denunciado, é aplaudido e reverenciado, é algo que se tornou tão institucional que você não incomumente, ao pontuar isso como abuso, poderá ouvir “ah, essa geração problematiza tudo”. A que rumo anda nossa sociedade?"


 

Me prolonguei um pouco ao falar mais precisamente sobre os tipos de abuso, praticamente já colocando aqui parte das aulas do curso que estou ministrando sobre abuso sexual infantil, mas quero voltar á discussão mais aberta, podemos falar sobre o abuso se jovens e seus efeitos e como vemos isso socialmente e na clínica? Deixa eu passar por essa questão rapidamente…


Recentemente realizei um trabalho junto de uma instituição onde atendemos adolescentes e adultos do sexo masculino, conversando com estes, tivemos muitos relatos de abuso sexual, de violência sexual e relatavam o quanto isso era doloroso. Me questionei, onde estava a sociedade neste momento? E, em um dos relatos me espantei, porque é até bizarro imaginar que isso possa aparecer nesta configuração e dentro da área de atuação da psicologia.


Um dos adultos entrevistados relatou um caso de abuso sexual infantil, uma criança de 7 anos sendo abusada sexualmente por 3 jovens com cerca de 15 anos. Um evidente e claro abuso sexual em uma configuração hedionda ao meu ver. Mas bem, em um período não tão distante de nosso tempo, a denúncia não foi feita, a criança foi encaminhada para terapia e a psicóloga, no auge se sua inutilidade social e existencial (se me permitem a indignação) apresentou aos responsáveis por essa criança que ele seria o responsável por este abuso visto que era uma criança afeminada e que muito provavelmente se tornaria uma “travesti”. A criança, ao ouvir isso, tomou para si a culpa e quando, adulto, apresentou a situação, novamente se colocava como culpado de um abuso vivenciado.




Se neste último parágrafo você não conseguiu ver o quanto uma visão machista em nossa sociedade é capaz de prejudicar (e por vezes destruir) e saúde mental e a vida de crianças e adolescentes que diariamente sofrem com abusos e violência sexual e não conseguiu entender o quanto é importante falarmos sobre isso no meio profissional e com formação técnica sobre o assunto, então não tem mais nada sobre a temática que possa lhe dizer para que perceba a devida importância desta discursão, por tanto, finalizo por aqui.


Agradeço à todos que leram e fiquem a vontade para comentar abaixo ou mandarem suas opiniões e contribuições pelo instagram.


Psi. Nicollas Rosa de Souza

Psicólogo Clínico e Fundador da BRAPSI

CRP: 05/69539





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